terça-feira, 1 de setembro de 2009

Bullying: o que é e como identificar ?


Vítima, agressor e aquele que observa. Quando se fala em bullying, todo mundo está envolvido de alguma maneira. E é mais comum do que se imagina

Como é o convívio da sua família em casa? Há muito que se sabe o quanto o comportamento dos filhos é um reflexo da maneira como os pais se relacionam com eles no dia-a-dia. Um estudo apresentado no encontro anual da American Sociological Association, nos Estados Unidos, que aconteceu neste mês, mostrou que aquela criança que se mostra valente, que persegue colegas e humilha os mais fracos - o chamado bully (agressor) - reproduz com os outros o comportamento dos pais. Esses atos são a violência, física ou psíquica - o bullying.


Roubar o lanche na escola, brincar de "corredor polonês", colocar apelidos cruéis, fazer gozações e ameaças são alguns dos comportamentos do bully. "Todo mundo tem uma história de bullying para contar", diz o pediatra Aramis Lopes, coordenador da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia). Se não no papel de vítima ou de agressor, ao menos como espectador.


O agressor é popular, lidera o grupo. Muitas vezes, são os atletas da escola, admirados e copiados. Os agressores podem vir a bater na mulher ou nos filhos, ou a perseguir colegas de trabalho - o que também é bullying, porque o fenômeno não ocorre só na escola. Pode acontecer no clube, na rua, ou mesmo dentro da família, entre irmãos. Se seu filho é um agressor, mostre que o ama, mas que desaprova seu comportamento.


As vítimas do bullying são normalmente tímidas, fracas e frágeis. São incapazes de se defender, de reagir. Geralmente são discriminadas por ter alguma diferença, como ser negras, deficientes físicas, altas, baixinhas ou gordinhas, ou mesmo ter sotaques diferentes, tirar boas notas e ir mal nos esportes. Algumas se tornam vítimas-agressoras: agredindo outras crianças, descontam e transferem os maus-tratos sofridos. Outras são as chamadas vítimas provocadoras, que provocam o agressor mas não conseguem se defender quando ele vem tirar satisfação.


Por outro lado, algumas crianças não fazem nada quando percebem que o colega está sendo perseguido porque têm medo de tomar partido e se tornar vítimas também. E podem acabar se aliando à violência.


Quando perceber o bullying

Aos 3 anos já dá para identificar reações de bullying. Tapas e mordidas freqüentes, sempre na mesma vítima, são algumas características. À medida que as crianças crescem, o abuso se torna mais psicológico. Nas meninas, o mais comum é fazer fofocas, ficar "de mal", excluir.


Nem tudo é bullying: como identificar


Naquele dia em que seu filho voltou com um arranhão para casa, depois de brigar com um coleguinha, ele tinha sofrido bullying? Calma. Não é bem assim. Existe uma maneira de brincar, entre as crianças, que é mais agressiva mesmo.


Os meninos que brincam de luta podem se arranhar. Às vezes, até chorar de dor ou susto. E isso é normal. O que vai assegurar que é uma brincadeira é a diversão das crianças. Nesses casos, não interfira: brincar de brigar é um exercício e ensina as crianças a resolver conflitos e a ter limites.


O bullying é diferente das brigas com causa, como a disputa por um brinquedo. Resolvido o conflito, as crianças voltam a brincar juntas. Para ser bullying, a agressão tem de ser intencional e repetitiva, ou seja: dia após dia, a criança passa por situações que causam dor ou sofrimento.


Observe ainda a idade das crianças: se existe diferença maior que dois anos é preciso intervir. Isso porque as brincadeiras devem ocorrer entre iguais: se há desequilíbrio de poder, é bullying. E, finalmente: se os sentimentos da vítima são de angústia, medo, terror e tristeza, é bullying. A criança que não se importa com apelidos e consegue se defender não sofre bullying.


Por algumas das agressões não serem físicas, os pais e a escola tendem a negligenciar, dizendo que é coisa da idade.

O que fazer?

Se os pais descobrem que o filho é vítima de bullying, devem procurar imediatamente a escola para que se interrompa o procedimento. Importante é sempre demonstrar para a criança que ela é amada, e que a culpa não é dela. "É preciso fazer tudo para melhorar a auto-estima da vítima", diz Cleo. Afinal, além da queda do desempenho escolar, da depressão e da insegurança, as seqüelas podem durar toda a vida e causar transtornos psíquicos graves, que podem resultar em suicídio ou no desejo de vingança.


Se a escola não tomar providências, os pais devem recorrer ao Conselho Tutelar, para exigir que o colégio cumpra a obrigação de proteger a criança. O melhor é que a escola trabalhe com a prevenção. Afinal, quanto mais cedo se intervir, mais chances os envolvidos terão de se recuperar. O ideal é tratar, no dia-a-dia, valores como fraternidade, compaixão, respeito. Desde pequenos, os pais devem ensinar isso em casa. Se o seu filho é o agressor, mostre que o ama, e que desaprova seu comportamento.


Existe bullying quando...
- As agressões, físicas ou psíquicas, são repetitivas e intencionais, contra a mesma criança, por muito tempo;
- Não existem motivos concretos para as agressões;
- Há desequilíbrio de poder: o agressor é mais forte ou mais poderoso que a vítima;
- O sentimento que causa nas vítimas é de medo, angústia, opressão, humilhação ou terror;
- A diferença de idade entre as crianças é maior que dois anos. Mesmo que o menor seja mais forte.


E não existe quando...
- As agressões são casuais ou pontuais. As crianças logo estão brincando juntas de novo;
- As brigas são causadas por motivos como a disputa de um brinquedo;
-l A brincadeira, mesmo que mais agressiva, é entre iguais;
- Os papéis se alternam: a criança que hoje é a vítima na brincadeira, na semana seguinte pode ser o agressor;
- O sentimento na brincadeira é de alegria. A criança gosta dos apelidos e se diverte nas brincadeiras.

Fonte: revistacrescer.globo

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