quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Biblioteca itinerante, agora na quebrada

Estacionado em frente a um conjunto habitacional do Capão Redondo, na Zona Sul de São Paulo, o coletivo amarelo logo atraiu uma dezena de crianças. Os ônibus adaptados, com estantes no lugar de bancos, levam cada um de 4 a 6 mil livros e param em 28 bairros das regiões leste, sul e norte da capital, uma a cada dia.

Os quatro veículos que compõem a frota do projeto ônibus-escola foram doados pela Secretaria Municipal dos Transportes e caracterizados pela Secretaria Municipal de Cultura. Cada unidade contem um acervo médio de quatro mil títulos e cumpre um itinerário de segunda-feira a domingo passando por sete bairros diferentes da cidade.

Além da caracterização dos novos veículos, foi contratada a Liga Brasileira de Editoras (LIBRE) para fornecer motoristas e uma programação mensal de encontro com autores.

Para pegar livro emprestado, basta o morador fazer um cadastro com documento de identidade e comprovante de residência. É possível levar na hora até dois livros, para devolver ou renovar na semana seguinte, quando o ônibus volta ao mesmo local. Os coletivos ficam estacionados nos pontos de paradas das 10 às 15 horas.

O custo para adaptar cada coletivo, cedido pela Secretaria de Transportes, é de R$ 15 mil. E, em cada ônibus, trabalham quatro funcionários da Secretaria de Cultura.

O projeto foi iniciado pelo escritor Mário de Andrade, que criou na década de 30 uma biblioteca itinerante na cidade. Mário de Andrade estacionava um carro cheio de livros na região central para que as pessoas lessem.
“Em vez de esperar em casa pelo seu público, vai em busca do seu público onde este estiver”, escreveu Mário de Andrade para justificar a iniciativa, em seguida aprovada. O modelo de caminhonete-biblioteca construído pela Ford, que funcionou até 1942, estacionava em lugares como o Jardim da Luz, Praça da República e o Largo da Concórdia, onde proporcionava “aos freqüentadores dos parques uma leitura imediata, dando ao far-niente uma orientação cultural”, segundo Mário de Andrade. Há setenta anos, percorrendo períodos de descontinuidade e ressurreição, o projeto de acervo sobre rodas resiste e mantém um público fiel apesar de contar com precários recursos.

A dificuldade de acesso à leitura é um problema básico para a formulação e implantação de qualquer política cultural. Os elevados preços dos livros, a inexistência de bibliotecas públicas na maioria dos bairros periféricos da cidade de São Paulo e os altos custos de instalação de novas bibliotecas são obstáculos que se somam a todos os fatores sociais que roubaram da população o direito a ler. O ônibus-biblioteca é uma alternativa simples: se não é possível construir uma biblioteca em cada bairro, cria-se uma biblioteca itinerante, que atenda vários lugares em dias alternados.

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