sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Garoto mais inteligente do mundo enlouqueceu

Aos 3 anos, resolvia testes de inteligência para adultos. Aos 5 tinha terminado o primeiro grau, aos 6 já tinha o diploma do segundo, aos 7 ia à universidade. E aos 8 anos terminou internado em um centro neuropsiquiátrico porque seguidamente golpeava a cabeça contra a parede, tentava suicidar-se e implorava aos médicos que, por favor, lhe devolvessem seu gatinho branco, Jedi, com acesso proibido ao hospital.

Não dá pra dizer que é aquele tipo de história exemplar de genialidade sendo cobrada pela loucura, porque não é. A vida do "garoto mais inteligente do mundo" é a parábola obscena de muitas coisas -a ambição desesperada de uma mãe, a atitude cínica dos políticos e do jornalismo, o opróbrio de um sistema escolar que busca exaltar aos melhores em lugar de recuperar os piores- que se entrelaçam para destruir um garoto absolutamente normal. Porque a realidade é que Justin Chapman não é nenhum gênio.

Esta é a história de uma fraude levada a cabo por uma mãe que aproveitou as falhas do sistema educativo estadunidense, obsecado por melhores números e pela produção. As primeiras notícias do "supermenino" chegaram aos jornais no final dos anos 90, quando Elizabeth Chapman, uma mãe solteira, advertiu a vários institutos que se dedicam à educação dos pequenos gênios que seu filho tinha obtido os resultados máximos em vários testes oficiais de inteligência para adultos. O garoto tinha então 3 anos.

Sempre ávidos de "golpes publicitários", os institutos lhe enviaram vários formulários e os resultados que obtiveram no retorno do correio foram sensacionais. Dizer que Justin era o primeiro da classe teria sido igual que dizer que Einstein era bom em matemática. Não se equivocava nunca, resolvia tudo, obtinha o recorde de pontuações para todas as idades. Quando seus amiguinhos começavam o primário, ele já terminava e se inscrevia no segundo grau por correspondência (a Cambridge Academy) via Internet. Aos 6 anos recebeu o diploma. Imediatamente depois, a mãe consegui que lhe enviassem os papéis para o SAT, o teste de admissão à universidade. Aos 7 anos, Justin obteve o máxima pontuação (1600 pontos) e a indústria dos diplomas outorgou-lhe.

Inscreveu-se então na respeitável Universidade de Rochester, no estado de Nova York. Ali podia ser visto um menino banguela entre alunos de vinte anos. Elizabeth, a mãe, construiu um grand site na internet. Sua fama começou a propagar-se. Recebeu fundos de institutos e centros que promovem a educação dos "pequenos gênios". Os políticos de todas as cores queriam ser fotografados a seu lado. Recebeu-o o governador republicano de Nova York, George Pataki. Foi felicitado pelo próprio Rudy Giuliani, ex prefeito da cidade. Hillary Clinton, senadora democrata do estado, correu a seu encontro e não se limitou à foto, senão que disse ter discutido com ele "os problemas da educação para os garotos de inteligência superior" em decorrência de uma grotesca conferência entre uma senhora de 55 anos e um garoto de 7.

Congressos e associações disputavam o pequeno Einstein para suas próprias conferências: só em 2001 participou em 13 -remuneradas, naturalmente. Mas quando falou na Universidade de Denver, alguns docentes começaram a suspeitar:

- "Ué... pareceu me pareceu um garoto normal de 7 anos, desenvolvido, mas muito normal", disse uma professora de psicologia infantil que tinha assistido à conferência para escutar o pequeno gênio. E na universidade, na confrontação real com estudantes e professores para valer, começaram os problemas.

Após as primeiras aulas, Justin desmoronou. Escondia-se embaixo da carteira.Explodia em prantos e gritos. Golpeava a cabeça contra a parede e as estantes. Negava-se a comer. Vomitava nas aulas. Então enviaram um psiquiatra até sua casa e o veredicto foi tremendo: Justin é um garoto transtornado, aterrorizado, quase psicótico. As autoridades públicas interviram e o diagnóstico foi ainda mais terrível: se não o afastassem logo de sua mãe, Justin se tornaria clinicamente louco... se é que ainda é recuperável. Todos os analistas concordaram: o pequeno sábio que dialogava com servidores públicos e senadoras famosas é um garoto absolutamente normal, inclusive com limitações emotivas e intelectuais.

A mãe perdeu a guarda do filho, que ficou a cargo do estado. E todos aqueles testes, aqueles resultados sensacionais, aqueles diplomas? Tudo mentira, tudo falso. A mãe fez os exames por ele, se aproveitando do anonimato que confere a Internet e da crédula desonestidade das escolas. Quando as provas começavam a lhe resultar muito difíceis, se transformou numa enganadora cibernética. Enviava por computador os testes feitos pelos alunos mais brilhantes do país, atribuindo-os a seu pequeno Justin. Apesar de que muitas coisas parecessem estranhas, havia a necessidade de crer no pequeno gênio, o culto norte-americano da "excepcionalidade", de criar um novo Einstein. Toda esta sede foi mais forte que a prudência.

Naturalmente, agora a mãe diz o que dizemos todos os pais, que "o fez por ele", para dar a esse filho único e "bastardo", "a possibilidade de um fututo melhor do que ela teve". O que ela conseguiu foi levar o pequeno Justin d pré-escola à clínica psiquiátrica para menores.

O pequeno continua tentando suicidar-se, batendo a cabeça contra as paredes e pede, chorando, que lhe deixem ver seu gatinho branco. Justin também pede que lhe levem seu manto azul da invisibilidade de Harry Potter.

O gato continua com o acesso vedado na clínica, mas, ao que parece, o pobre Justin já pode desfrutar do seu desejado manto.

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