As causas podem ser orgânicas ou comportamentaisÉ muito comum ver crianças reclamando da comida que está no prato porque "não gostam" do feijão, da salada ou do espinafre. Comportamento normal nas crianças com idade escolar, a seletividade na hora das refeições pode se tornar um problema se a dificuldade em comer levar a problemas de saúde, como anemia, carências nutricionais ou obesidade. Segundo o pediatra e nutrólogo Mauro Fisberg, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o fenômeno é conhecido como "picky eaters" - "comedores seletivos", em tradução livre. "A seletividade alimentar é uma fase normal do desenvolvimento infantil, que acontece quase sempre perto do início do período escolar. É quando a alimentação deixa de ser o foco de atenção e a criança começa a interagir mais com o ambiente ao redor", explica Fisberg. "É quando começa a nossa autonomia para decidir do que gostamos e do que não gostamos." No entanto, o que as crianças "picky eaters" apresentam vai além das características da fase natural, sendo considerado um distúrbio alimentar. Os grupos de alimentos rejeitados geralmente são os legumes, frutas e verduras. E as causas podem ser orgânicas ou comportamentais. "Problemas gastrointestinais, infecciosos, respiratórios ou neurológicos podem alterar o apetite", diz o médico. "Ou o problema pode acontecer com uma criança de mudou de escola, de babá ou sofreu uma perda familiar." Nestes casos, a aversão a certos tipos de alimentos pode gerar deficiências na ingestão de ferro, vitaminas e sais minerais, comprometendo o desenvolvimento físico e intelectual da criança, dependendo do grau de deficiência. Estas deficiências podem ser corrigidas com a ajuda de suplementos recomendados pelo médico da criança, mas está longe de ser o único fator de tratamento. Mudanças na alimentação são necessárias. Dependendo da causa, a criança também pode entrar em acompanhamento psicológico. Além disso, o modelo que a família dá à criança é fundamental para lidar com o problema. "Se a família tem uma alimentação ruim, o hábito de trocar refeições por lanches, pular refeições ou não comer junta à mesa, a criança terá mais problemas se alimentar direito", diz. Mauro Fisberg recomenda estabelecer limites na alimentação, horários, preparar os alimentos de diferentes formas e caprichar nos pratos coloridos para abrir o apetite dos pequenos. Mudar os temperos é outra alternativa. "Figuras, carinhas e bonecos são uma boa pedida para atrair estas crianças. Alternativas mais simples, como cores diferentes no mesmo prato e frutas na gelatina funcionam da mesma forma. O importante é que a criança veja a comida com menos seriedade, mas sem tratá-la como um brinquedo", aconselha médico. Obesidade infantil O distúrbio que afeta as crianças mais seletivas à mesa é uma das possíveis causas de obesidade infantil. "Crianças que comem mal podem ter preferência por alimentos ricos em açúcares e gorduras, então elas podem chegar a ficar obesas", diz o pediatra Mauro Fisberg. "Mas a alimentação não é a única causa da obesidade. Metabolismo, genética e atividade física inadequada também são fatores, assim como o aspecto emocional, que pode funcionar como gatilho." De acordo o pediatra, crianças muito magras que são submetidas a tentativas de comer mais podem ter uma reação de liberação de reservas de gordura no organismo quando mudam o padrão de alimentação, o que pode igualmente desencadear a obesidade. "O organismo reage como se ela tivesse passado fome", diz ele. Uma pesquisa feita por médicos do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo e divulgada nesta semana revela que a obesidade em crianças e adolescentes pode antecipar em até 20 anos o surgimento de doenças cardiovasculares, como o enfarto e o AVC (acidente vascular cerebral). Segundo a Secretaria de Saúde paulista, alimentação saudável - rica em frutas e verduras, pobre em bolachas, salgadinhos e refrigerantes - e a prática de exercícios desde a primeira infância são essenciais para evitar o problema.
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