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Fonte: Agência Estado e do site da CBN.
Confira no vídeo abaixo o que a união de Tatau, Orquestra Sinfônica Juvenil 2 de Julho e de 1.500 estudantes da rede pública foi capaz de fazer: uma bela interpretação do hino à Independência do Brasil na Bahia. A nova versão foi criada pelo maestro Fred Dantas.
A gravação ocorreu no dia 18 de maio último, no Teatro Castro Alves, organizada pela Secretaria de Educação da Bahia e pela seção baiana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-BA). O Hino ao 2 de Julho tornou-se, neste ano, o Hino Oficial do Estado.
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Brasília – No dia em que se comemora os 122 anos da Lei Áurea, o ministro da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Eloi Ferreira, anunciou hoje (13) a criação de 250 bolsas de pós-graduação para alunos negros ou pardos e um aumento de 200 bolsas do Programa de Iniciação Científica (Pibic), que passarão de 600 para 800 em 2010.
O ministro destacou que, apesar de o sistema de cotas não ser obrigatório no Brasil, 91 universidades públicas do país adotam a reserva de vagas no vestibular para alunos negros.
Ele também anunciou o lançamento de um selo para identificar as instituições de ensino que promovem a Lei nº 10.639, de 2003. O texto tornou obrigatória a inclusão da história do povo negro e suas contribuições culturais, econômicas e sociais para o país no currículo de ensino infantil, fundamental e médio. A entrega dos selos ocorrerá em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.
Para Eloi Ferreira, as ações divulgadas hoje ajudam a corrigir injustiças e distorções históricas. “A promulgação da Lei Áurea não foi acompanhada de uma inclusão educacional, habitacional e isso faz com que até hoje o negro continue na base da pirâmide social”, afirmou.
O ministro defendeu também a criação do Estatuto de Igualdade Racial, que já foi aprovado pela Câmara e aguarda votação no Senado. “Essa lei será como um segundo artigo da Lei Áurea. Ela garante o respeito às religiões de matriz africana e garante a possibilidade de acesso à terra aos remanescentes quilombolas”, destacou.
Edição: Juliana Andrade
Foto: Reprodução
DIÁRIO DO NORDESTE
O hábito alimentar dos brasileiros tem sofrido sérias mudanças nos últimos 25 anos, e para pior. Alimentos com alto teor de gordura e sal se tornaram itens frequentes na dieta familiar. O consumo de produtos embutidos, como mortadela e linguiça aumentou 300%, enquanto o de refrigerantes 400%, (segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares). O levantamento mostrou também que a ingestão de frutas, verduras e legumes está longe de ser a ideal do mínimo aconselhável para a manutenção da saúde, alcançando apenas 1/3 das 400 gramas recomendadas pelo Guia Alimentar para a População Brasileira.
Exemplos da carência alimentar dos brasileiros não faltam. Duas, em cada três pessoas, não ingerem a quantidade recomendada de nutrientes considerados essenciais, como o ferro, cálcio e vitamina D.
Foi o que constatou o BRAZOS (2006), estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade de São Paulo (USP), e que é considerado até então a maior e mais completa amostragem da saúde nutricional da população adulta (rural e urbana) sobre o consumo de micronutrientes (vitaminas e minerais em pequena quantidade no organismo).
Segundo a nutricionista Andréa Ramalho, coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Micronutrientes do INJC/UFRJ, as mudanças nos hábitos alimentares estão ligadas ao sedentarismo, sobrepeso, uso de álcool e tabaco e se relacionam ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como o diabetes tipo 2, hipertensão e obesidade. Estas respondem por 44,1% das mortes no Brasil.
"A dieta é um fator modificável de grande impacto para a prevenção de doenças", afirma Ramalho, palestrantes do simpósio "Mitos e verdades sobre suplementação vitamínica", promovido pelo Laboratório Wyeth, em São Paulo.
No entanto, uma dieta equilibrada nem sempre é sinônimo de que o organismo está absorvendo todos os micronutrientes necessários. A presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, Dra. Silvia Cozzolino ressalta que os alimentos podem até conter a quantidade adequada de nutrientes, porém, se pouco bio-disponíveis, pode ocasionar graves deficiências. "A biodisponibilidade de um nutriente está vinculada com a sua acessibilidade para processos metabólicos e fisiológicos, ou seja, a eficiência com que o componente da dieta será utilizado".
Biodisponibilidade
A idade; a composição dos alimentos em uma mesma refeição; o acúmulo de gordura; o uso de medicamentos, cigarro e álcool; a qualidade do solo onde foi cultivado o alimento; e o clima são fatores que interferem na biodisponibilidade de nutrientes. Entre os minerais, o ferro é o que requer maior atenção, já que a sua biodisponibilidade, muito baixa, varia de acordo com as regiões do Brasil.
No Nordeste, especialmente no Ceará, em função da qualidade do solo e do clima, o feijão concentra uma maior porcentagem de ferro, enquanto no Sudeste o índice do mineral nesse alimento é muito abaixo do recomendado, o que leva a população a ter que consumir outros alimentos ou recorrer a suplementação vitamínica e mineral para ter o aporte correto de nutrientes essenciais.
Além do ferro, a dieta do brasileiro é pobre em vitaminas A, E e D, assim como iodo e zinco. Essas deficiências, de acordo com as pesquisas, independem do sexo e condição sócio-econômica do indivíduo, estão mais relacionadas ao histórico familiar, estilo de vida e dieta alimentaFrutas de menos
O Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel/2008), mostrou que o consumo de frutas e hortaliças no Brasil é de apenas 15,7% da quantidade mínima de 400g (cinco porções/dia) sugerida pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Assim, muitos brasileiros não consomem em uma semana o que é recomendado para a ingestão diária.
Em detrimento dos benefícios das vitaminas contidas nas frutas, 27,8% dos brasileiros ouvidos na pesquisa confirmaram sua preferência por refrigerantes: a bebida é ingerida em cinco ou mais dias da semana; e 33,8% optam por carnes com gordura.
Educação alimentar
Segundo o ABRAZOS, 76% da população brasileira é sedentária, 25% faz uso de tabaco, 60% sofre de sobrepeso e 13% de obesidade. Esses fatores estão diretamente relacionados aos hábitos alimentares. "Nunca se fez tanto diagnóstico para mostrar esse cenário, o que falta é otimizar as informações disponíveis. Para auxiliar e orientar a população deve acontecer sempre um atendimento multidisciplinar entre os profissionais da área de saúde", alerta Andréa Ramalho.
É preciso combater a deficiência dos micronutrientes já instalada e prevenir novos casos através da fortificação alimentar e suplementação vitamínica e mineral. Uma das opções é investir em educação alimentar e conscientizar a população para o consumo adequado de nutrientes. A outra é incluir a disciplina de educação nutricional no currículo escolar, além d e disponibilizar informações sobre nutrição em locais públicos.
NECESSIDADE
Tabaco: os fumantes têm maior necessidade de vitamina C;
Bebidas alcoólicas: a ingestão de mais de 1 drinque /dia faz com que a pessoa necessite de um maior consumo de vitaminas B1, B6 e cálcio;
Anticoncepcionais: seu uso aumenta a necessidade da pessoa ingerir maior quantidade de vitaminas C, dos complexos B6 e B12, além d e ácido fólico;
Drogas: interferem nos diferentes passos do metabolismo dos micronutrientes, podendo causar deficiências nutricionais graves.
Hábito
27,8 dos brasileiros consomem refrigerantes em cinco ou mais dias da semana; 33% ingerem carnes com excesso de gordura. Os números são do estudo ABRAZOS
Feijão cearense possui maior teor de selênio
Profa. Carla Soraya C. Maia
As doenças crônicas não transmissíveis são fortemente influenciadas pelos hábitos alimentares. A população tem modificado seus hábito s de forma a acrescentar alimentos ricos em gordura (incluindo as saturadas) e carboidratos simples como o "açúcar de mesa", a sacarose. Por outro lado, excluímos alimentos ricos em fibras, vitaminas e minerais como as leguminosas (feijão), grãos e cereais (milho e arroz), frutas e verduras. As DCNT são uma epidemia mundial que nenhum recurso da indústria farmacêutica ou alimentícia tem sido capaz de barrar. Resta-nos pensar numa solução simples e de longo prazo: a educação alimentar.
No Ceará dispomos de uma variedade de frutas tropicais ricas em antioxidantes, alimentos regionais (milho e derivados) e demais vegetais, todos ricos em micronutientes, que apesar do termo "micro" desempenham funções essenciais para a prevenção de doenças. Exemplo disto é a presença de selênio em abundância no solo cearense. Este mineral é responsável pelo sítio ativo da enzima antioxidante glutationa peroxidase, atua no controle metabólico da glândula tireóide e mecanismos relacionados ao sistema imunológico. Estudo feito na USP com feijões de todo o Brasil, mostrou que o feijão produzido no Ceará possui a maior concentração de selênio; em estudo realizado com indivíduos do Ceará encontramos uma atividade antioxidante elevada e menores indicadores de estresse oxidativo quando comparados a um grupo de São Paulo. Enfim, é possível com dieta saudável prevenir ou controlar os agravos das DCNT proporcionando melhora na qualidade de vida das pessoas.
* Doutora em Nutrição Humana((USP) e Profa. adjunta do curso de Nutrição da UECE
Introdução
Na época em que os portugueses começaram a colonização do Brasil, não existia mão-de-obra para a realização de trabalhos manuais. Diante disso, eles procuraram usar o trabalho dos índios nas lavouras; entretanto, esta escravidão não pôde ser levada adiante, pois os religiosos se colocaram em defesa dos índios condenando sua escravidão. Assim, os portugueses passaram a fazer o mesmo que os demais europeus daquela época. Eles foram à busca de negros na África para submetê-los ao trabalho escravo em sua colônia. Deu-se, assim, a entrada dos escravos no Brasil.
Processo de abolição da escravatura no Brasil
Os negros, trazidos do continente Africano, eram transportados dentro dos porões dos navios negreiros. Devido as péssimas condições deste meio de transporte, muitos deles morriam durante a viagem. Após o desembarque eles eram comprados por fazendeiros e senhores de engenho, que os tratavam de forma cruel e desumana.
Apesar desta prática ser considerada “normal” do ponto de vista da maioria, havia aqueles que eram contra este tipo de abuso. Estes eram os abolicionistas (grupo formado por literatos, religiosos, políticos e pessoas do povo); contudo, esta prática permaneceu por quase 300 anos. O principal fator que manteve a escravidão por um longo período foi o econômico. A economia do país contava somente com o trabalho escravo para realizar as tarefas da roça e outras tão pesados quanto estas. As providências para a libertação dos escravos deveriam ser tomadas lentamente.
A partir de 1870, a região Sul do Brasil passou a empregar assalariados brasileiros e imigrantes estrangeiros; no Norte, as usinas substituíram os primitivos engenhos, fato que permitiu a utilização de um número menor de escravos. Já nas principais cidades, era grande o desejo do surgimento de indústrias.Visando não causar prejuízo aos proprietários, o governo, pressionado pela Inglaterra, foi alcançando seus objetivos aos poucos. O primeiro passo foi dado em 1850, com a extinção do tráfico negreiro. Vinte anos mais tarde, foi declarada a Lei do Ventre-Livre (de 28 de setembro de 1871). Esta lei tornava livre os filhos de escravos que nascessem a partir de sua promulgação.
Em 1885, foi aprovada a lei Saraiva-Cotegipe ou dos Sexagenários que beneficiava os negros de mais de 65 anos.Foi em 13 de maio de 1888, através da Lei Áurea, que liberdade total finalmente foi alcançada pelos negros no Brasil. Esta lei, assinada pela Princesa Isabel, abolia de vez a escravidão no Brasil.
Se for aprovada, a mudança irá dar mais liberdade aos professores, reduzir o volume de informações a serem decoradas e ensinar as crianças a aproveitar as ferramentas disponíveis para complementar o aprendizado - e é aí que entram os recursos da web 2.0, como wikipedia, twitter, blogs, webcasts, etc.
Obviamente, temas básicos - como operações matemáticas, estudo da língua, fonética e cronologia histórica - não seriam excluídos. E haveria também um reforço na atenção dada à educação ambiental.
A controvérsia toda deve-se ao fato de que alguns temas históricos serão limados do programa - como é o caso da Segunda Guerra Mundial e da Era Vitoriana. Convenhamos que crianças de menos de 11 anos não prestam atenção nessas coisas mesmo...
Mas, por outro lado, não consigo imaginar o que essa turma dessa idade pode aprender sobre internet na escola. Seria mais fácil eles ensinarem algumas coisas aos professores!
Polêmico, o caso da rede estadual de São Paulo levanta um ponto central de uma discussão antiga sobre o currículo escolar na educação brasileira: a quem compete a definição dos conteúdos a ser ensinados em sala de aula? Em países como a França, o grau de liberdade das escolas nesse sentido é nulo - os professores podem escolher somente as obras literárias que desejam indicar a seus alunos.
Como é um Estado federativo, o Brasil trabalha com algumas orientações nacionais, representadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais e pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, e deixa a cargo de estados e municípios a elaboração de orientações mais específicas. Mas a adoção desse modelo não é consensual. Para alguns especialistas da área, tanto as diretrizes quanto os parâmetros são insuficientes.Seria necessário elaborar?definições mais específicas sobre o que deve ser ensinado. Para outros, o que falta são orientações concretas de estados e municípios, alicerçadas nas nacionais. Há ainda quem defenda que o professor seja o único responsável pela definição dos currículos - qualquer interferência é vista como um veto à liberdade docente.
Em paralelo a esse debate, caminha outro, também objeto de disputa entre teóricos e formuladores de políticas públicas. Como se deve dar a construção do currículo? Em outras palavras, o que justifica que algumas áreas do conhecimento, como sociologia e filosofia sejam diretamente contempladas na grade curricular - e outras, como psicologia, não?
O termo currículo vem da palavra latina currère (correr), que diz respeito ao curso, à carreira ou a um percurso que deve ser realizado. A perspectiva de currículo como plano estruturado de estudos apareceu pela primeira vez em 1633, no Oxford English Dictionary. A partir do momento em que entrou no campo pedagógico, a palavra passou a designar a relação de disciplinas organizadas numa seqüência lógica, por série ou curso e com o tempo reservado a cada uma. As matérias e a própria organização da grade curricular só existem após um processo de escolarização de conteúdos científicos. "É um processo complexo, que envolve adaptação do conhecimento à situação de ensino-aprendizagem. Mas a verdade é que o conhecimento é apresentado ao aluno como algo pronto e indiscutível", diz Antônio Flávio Moreira, da Universidade Católica de Petrópolis.
Essa transposição escondida acontece em diversas instâncias: nos órgãos públicos que organizam e selecionam conhecimento, nos livros didáticos, na escola e nas universidades, com os cursos de formação dos professores. Com tantos envolvidos, pode-se afirmar que há uma tensão relativamente grande quando o assunto é o currículo. "Há interferência de movimentos negros, feministas, indígenas, entidades religiosas, professores de sociologia, psicologia, filosofia… o conteúdo está sob influência de todas essas fontes", aponta Elba Barreto, da Faculdade de Educação da USP. Tudo para ser redefinido, novamente, nas escolas, que o molda de acordo com sua cultura específica. "Ainda que haja uma orientação geral comum, as decisões curriculares podem ocorrer em diferentes níveis", diz.
Talvez por isso ainda haja falta de clareza sobre o que deve ser ensinado. "Para fugir do conteudismo e de atender todos os segmentos sociais, deixou-se de perguntar quais são os conhecimentos necessários para que o aluno possa ser um cidadão e para que aprenda outros conhecimentos", explica o professor Antônio Flávio. Para ele, os PCNs não fornecem uma base comum aos professores para que eles possam trabalhar as disciplinas de acordo com a sua realidade. "Eles foram elaborados de forma pouco democrática. Precisamos saber quais são, por exemplo, os pontos necessários para que o aluno termine o 9º ano", continua. Mas Antônio ressalta que essa base não pode ser uma camisa de força e não pode tirar a liberdade e a criatividade do professor em sala de aula - deve ser um apoio.
Lucíola Santos, líder do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Currículos e Culturas da Universidade Federal de Minas Gerais, concorda com as ponderações e vai além. Para ela, os docentes estão perdidos, sem orientação nenhuma no que diz respeito aos conteúdos. "As avaliações mostram que a educação não vai bem e falta direção diante disso", assevera.
Para José Francisco Soares, especialista em avaliação e membro do Conselho Consultivo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a questão do currículo aparece de duas formas diferentes. No ensino médio, a seu ver, o problema está no grande número de disciplinas e conteúdos a serem ensinados, num modelo que está na contramão do que fazem os países desenvolvidos, em especial os Estados Unidos. "É um volume de informação muito grande", pontua.
Já no ensino fundamental, Soares crê que haja razoável consenso sobre o que se deve ensinar e aprender, dado que são conteúdos básicos. Mas o problema estaria no como fazê-lo. Ele defende que haja unidade na introdução do currículo nas escolas que fazem parte de uma mesma rede, fato que facilita a formação dos professores. "Se os professores usam materiais didáticos diferentes, como se pode capacitá-los com uma mesma orientação?", pergunta. E cita como exemplo alguns países que usam um livro-texto único, como Cuba, China e México.
Na contramão dessa linha está o ex-assistente da diretoria estadual de ensino de Osasco e autor do blog Ensino.blog.br, Flávio Tonnetti. Para ele, os PCNs já restringem a matriz curricular porque especificam suficientemente os conteúdos, e impedem tentativas inovadoras em sala de aula. "Sou contra definição mais específica. Qualquer uma seria arbitrária e não respeitaria as realidades locais. É preciso tratar a escola como célula", aponta. Flávio pondera que uma base comum nacional pode ferir a autonomia da escola, a liberdade do professor e incomodar o aluno. Sobre a possibilidade da falta de diretrizes gerar um quadro caótico, ele diz que é um risco não tão maior do que o do professor se transformar num reprodutor de conhecimentos.
Unidade na diversidade
Entre os dois extremos, encontram-se as pesquisadoras do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), Meyri Venci Chieffi e Maria José Reginato. A partir de experiências com construção de currículo em redes e escolas, elas afirmam que os PCNs são suficientes, mas que orientações estaduais, municipais e de cada escola são necessárias, acompanhadas de políticas de investimento em cursos de formação de professores. Essas diretrizes são previstas, em âmbito estadual e municipal, nos Planos de Educação, que não foram levados a cabo pela maioria.
Alicerçadas na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), nos PCNs e nas Diretrizes, as regulamentações estaduais e municipais devem trabalhar com a diversidade de cada região. "Como você respeita diversidades entre Amazonas e São Paulo? Tem de ter uma legislação nacional, e dentro dela, as estaduais", colocam. As pesquisadoras defendem que a construção desse currículo regional seja feita a partir de uma discussão ampla com o quadro docente, a universidade, a família e os alunos. "Tem de haver margem para que as pessoas se coloquem como sujeitos. Eles têm um nível de decisão curricular também", explicam.
O receio não é injustificado: foi exatamente o que aconteceu com a proposta curricular do Estado de São Paulo. O professor se sentiu um mero reprodutor de decisões curriculares tomadas por outras instâncias. E os alunos não se reconheceram no material. "Quando é imposto, ninguém sabe as razões pelas quais os conteúdos foram escolhidos", dizem.
São esses atores - professores, famílias e alunos, entre outros - que, segundo as pesquisadoras, deveriam fazer parte da construção do currículo real, que acabam se transformando em agentes daquilo que ambas chamam de "currículo oculto". Ou seja: no momento em que o currículo formal - as diretrizes nacionais, estaduais ou municipais - viram prática, outras situações que interferem nas experiências de aprendizagem acontecem em paralelo. "O jeito com que o professor fala com o aluno, a linguagem que usa, o tom de voz, tudo se incorpora ao currículo", defendem as pesquisadoras do Cenpec.
Parar elas, é preciso detectar dissonâncias entre esses currículos. Dar uma aula sobre ética e repreender o aluno sem motivo aparente é uma contradição de conteúdos, de certa maneira. "Há muitas interferências, e é preciso problematizar o modo de lidar com elas. Isso sem esquecer que o currículo deve ser vivo nas escolas. Para que isso aconteça, deve ser debatido, discutido e negociado."
Flávio Tonnetti, ex-assistente da diretoria estadual de ensino de Osasco: qualquer definição de currículo seria arbitrária e desconsideraria as realidades locais
Ele, o professor
Nessa perspectiva, qual deve ser o grau de liberdade do docente em sala de aula? Elba Barreto, da Feusp, defende que o professor nunca estará isolado em sua sala de aula, pronto a ensinar o que quer. "O que ele fala e a forma como trabalha os conteúdos estão ligados a uma história e representam idéias e valores diversos. Não tem como isolar isso de um contexto mais amplo", diz. Flávio Tonnetti defende a total autonomia do professor. Para ele, um ensino padronizado não garante que o conhecimento será absorvido pelos alunos. "Para que dar espaço a conservadorismo quando a educação tem fracassado constantemente?", questiona.
Há uma visão mais sistemática, defendida pela professora Lucíola Santos, da UFMG: O professor deve abordar o conteúdo através do método com o qual mais se identifica e com o qual se sente mais seguro, além de respeitar o perfil cognitivo de seus alunos.
Outra questão que passa diretamente pelo professor é a desconexão entre o que é ensinado nos cursos de licenciatura de pedagogia e o que é ensinado em sala de aula. Uma dimensão da gravidade do quadro apareceu em um estudo realizado pela Fundação Carlos Chagas que, entre outros dados, mostra que ainda há 18% dos cursos de pedagogia que prescindem da didática como uma das disciplinas curriculares.
Uma das iniciativas para resolver o problema veio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por um programa instituído em 2007 que prevê bolsas de estudos a licenciandos em pedagogia e outras áreas para atuar na escola, com orientação do professor da universidade. Magda Soares Becker, uma das integrantes do Conselho Técnico Científico da Educação Básica da Capes, diz que a iniciativa pretende estreitar os laços entre a escola de ensino básico e o conteúdo ensinado nas universidades.
Mais uma vez, a aposta é na troca de experiências e na discussão, saídas consideradas essenciais por Meyri e Maria José, do Cenpec, se a idéia é tratar do currículo escolar. "É preciso realmente ampliar a discussão para se ter a maior consciência possível do que se está fazendo. Se não, ficamos à mercê do livro didático e dos conteúdos abordados em avaliações", alertam.
Avaliações, orientadores curriculares
Até pouco tempo, antes das avaliações internacionais e nacionais tomarem a importância que têm hoje, os livros didáticos serviam de orientadores curriculares. Como há pouco consenso sobre a suficiência dos PCNs e das Diretrizes Nacionais, os professores acabavam se apegando a eles em sala de aula. Eram seus guias.
Especialistas ouvidos por Educação identificam um novo movimento atualmente: os conteúdos avaliados na Prova Brasil, no Saeb e até mesmo no Enem acabam orientando escolas e redes sobre o que deve ser ensinado. O presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, diz não ter dados concretos sobre isso, mas enxerga uma tendência. "Se o currículo no Brasil fosse bem estabelecido, seguiríamos essa base", diz. Para ele, o fato de as escolas se apoiarem em avaliações não é necessariamente ruim. "Pode servir como incentivo. Depende do que a escola quer ensinar. Se o desempenho melhorar, por que não?", questiona.
A proposta curricular de SP
O Jornal do Aluno foi instituído na rede estadual paulista no início de 2008 em conjunto com a Revista do Professor. Quando assumiu a pasta, em 2007, a secretária Maria Helena Guimarães de Castro identificou problemas nos índices de desempenho dos alunos. Iniciou-se, então, um projeto de recuperação pontual em português e matemática, que englobou os dois materiais e durou 42 dias.
Segundo Maria Inês Fini, assessora da Secretaria de Estado da Educação na área de avaliação, o projeto tinha como caráter principal a interdisciplinaridade. Ambas as peças não serão reeditadas em 2009 - a revista agora foi transformada no Caderno do Professor, que serviu de base para a elaboração do Caderno do Aluno, ambos parte do material curricular de 2009. Segundo Maria Inês, o Caderno do Professor (ex-Revista) foi mantido porque 92% dos professores o acataram e não sugeriram modificações. Outros 7,5% sugeriram e os 5% restantes não gostaram do material. "Nossa obrigação, como Secretaria de Educação, é propor. Os professores usaram e reagiram", coloca.
Para a assessora, as comunidades dos alunos e professores no Orkut devem ser desconsideradas. "Comunidade no Orkut é uma leviandade. Não foi um projeto experimental, não caberia testar o aluno. Somos professores, autores de livros. Sabemos o que estamos fazendo", diz.
Para saber mais
Currículo - Campo, conceito e pesquisa. Roberto Sidnei Macedo. Editora Vozes, 2007
Currículo e autonomia. Jorge Lemos. Porto Editora, 2001
Currículo na contemporaneidade - Incertezas e desafios. Regina Leite Garcia e Antonio Flávio Barbosa Moreira. Cortez, 2003
Currículo, poder e lutas educacionais - Com a palavra, os subalternos. Michael W. Apple, Kristen L. Buras e colaboradores. Editora Artmed, 2006
Ensino de filosofia e currículo. Ronai Pires da Rocha, Editora Vozes, 2008.
Escola e sociedade e a criança e o currículo. John Dewey. Editora Relógio D’água, 2002
História da organização do trabalho escolar e do currículo no século 20 - Ensino primário e secundário no Brasil. Rosa Fátima de Souza. Cortez, 2008.
Organização do currículo por projetos de trabalho - O conhecimento e um caledoscópio. Fernando Hernandez e Montserrat Ventura. Editora Artmed, 1998
Projeto político-pedagógico - Construção e implementação na escola. Cássia Ravena Mulin de Assis Medel. Autores Associados, 2008
Saber escolar, currículo e didática - Problemas na unidade conteúdo/método no processo pedagógico. Nereide Saviani. Autores Associados, 2006
Fonte: Revista Educação – http://revistaeducacao.uol.com.br