Depoimento de Hamilton Borges Walê é poeta e contista e principal
articulador da Campanha Reaja ou será mort@. Coordena o Projeto Cultura
Intramuros na Penitenciária Lemos Brito e é militante do Movimento Negro
Unificado/BA.
O Reaja é uma campanha, basicamente contra o genocídio da
população negra e que tem duas vertentes. Uma é a pressão direta
sobretudo contra o modelo de segurança pública vigente, a brutalidade
policial que nos afeta diretamente e os grupos de extermínio. A outra
vertente, que é a vertente de formação, a gente acredita na articulação
cultural comunitária, ou seja, a gente acredita que tem que fazer o
roteiro inverso. A gente tem que ir às comunidades, levantar os
problemas, informar as pessoas para um tipo de militância de Movimento
Negro que fortaleça sua autonomia e seja realmente independente, o que é
muito difícil.
O Reaja surgiu em 2005. No dia 12 de maio daquele ano nós
fizemos um ato na porta da Secretaria de Segurança Pública, que na
verdade é a Delegacia Central da Polícia Civil, mas ali é o símbolo da
Secretaria de Segurança Pública, no Largo da Piedade, um ato que nós
passamos um mês organizando. Na ocasião, cinco jovens foram assassinados
em Paripe por moradores da comunidade. Comerciantes, policiais que
estavam muito chateados com o fato de esse grupo de jovens ter cometido
pequenos delitos. Furtavam biscoito na venda, vendiam relógios, pegavam
morceguinho pra pongar no ônibus, faziam umas badernas à noite, bebiam,
entre eles tinha uma jovem. O que eles fizeram? Eles assassinaram esses
jovens depois de muita tortura e carbonizaram os corpos. Na mesma época
(março de 2005), duas semanas depois, sete jovens foram assassinados no
Nordeste de Amaralina e suas mortes atribuídas à guerra do tráfico. Só
que nós, muita gente da Campanha do Reaja, morávamos no Nordeste de
Amaralina e sabíamos que esses jovens não faziam parte do tráfico de
drogas. Não existia uma guerra de tráfico de drogas, existia uma ação da
polícia ou uma ação de grupos tolerados pela polícia, com pagamento
explícito dos comerciantes da área, pra ‘limpar’ a comunidade.
O 13 DE MAIO E A CAMPANHA REAJA UM SOCO NA REPUBLICA QUE NÃO CHEGA
articulador da Campanha Reaja ou será mort@. Coordena o Projeto Cultura
Intramuros na Penitenciária Lemos Brito e é militante do Movimento Negro
Unificado/BA.
O Reaja é uma campanha, basicamente contra o genocídio da
população negra e que tem duas vertentes. Uma é a pressão direta
sobretudo contra o modelo de segurança pública vigente, a brutalidade
policial que nos afeta diretamente e os grupos de extermínio. A outra
vertente, que é a vertente de formação, a gente acredita na articulação
cultural comunitária, ou seja, a gente acredita que tem que fazer o
roteiro inverso. A gente tem que ir às comunidades, levantar os
problemas, informar as pessoas para um tipo de militância de Movimento
Negro que fortaleça sua autonomia e seja realmente independente, o que é
muito difícil.
O Reaja surgiu em 2005. No dia 12 de maio daquele ano nós
fizemos um ato na porta da Secretaria de Segurança Pública, que na
verdade é a Delegacia Central da Polícia Civil, mas ali é o símbolo da
Secretaria de Segurança Pública, no Largo da Piedade, um ato que nós
passamos um mês organizando. Na ocasião, cinco jovens foram assassinados
em Paripe por moradores da comunidade. Comerciantes, policiais que
estavam muito chateados com o fato de esse grupo de jovens ter cometido
pequenos delitos. Furtavam biscoito na venda, vendiam relógios, pegavam
morceguinho pra pongar no ônibus, faziam umas badernas à noite, bebiam,
entre eles tinha uma jovem. O que eles fizeram? Eles assassinaram esses
jovens depois de muita tortura e carbonizaram os corpos. Na mesma época
(março de 2005), duas semanas depois, sete jovens foram assassinados no
Nordeste de Amaralina e suas mortes atribuídas à guerra do tráfico. Só
que nós, muita gente da Campanha do Reaja, morávamos no Nordeste de
Amaralina e sabíamos que esses jovens não faziam parte do tráfico de
drogas. Não existia uma guerra de tráfico de drogas, existia uma ação da
polícia ou uma ação de grupos tolerados pela polícia, com pagamento
explícito dos comerciantes da área, pra ‘limpar’ a comunidade.
O 13 DE MAIO E A CAMPANHA REAJA UM SOCO NA REPUBLICA QUE NÃO CHEGA
Pela passagem dos cinco anos da Campanha Reaja na Bahia !!!
Tenho pensado em porque o 13 de maio ainda é amplamente comemorado em todo o país. Agora, por ocasião do aniversário da Campanha Reaja, farei um breve comentário de um assunto que merece ser tematizado. Vlamyra Albuquerque aborda isso em seu livro, “O Jogo da Dissimulação”.
O 13 de maio, tendo sido fruto de uma pressão de republicanos e uma sobrevida para os monarquistas, seria lembrado como a glória histórica dos dois sistemas. Não era uma festa para negros comemorarem, porque a comemoração é uma auto-afirmação de seu mundo e isto, os monarquistas pouco compreendiam e os republicanos, bulhufas. Não era para existir Congadas, Bembé do Mercado e nem Reisados.
A república queria mesmo era ungir um mundo de iguais sem rostos da Republica que anunciava uma agenda emancipatória. No final do império existia uma Guarda Negra, formada por escravos libertos que entendia a importância de um terceiro reinado para a monarquia.Silva jardim, um famoso republicano que fora duramente combatido publicamente por dezenas de membros da Guarda Negra. Um prenúncio de uma republica eurocêntrica que tinha medo dos pretos que gostava da princesa e que tinha desconfiança dos brancos ricos materialistas. Hoje sentimos as faltas históricas de uma decadente Monarquia e de uma República não realizada e que nem por isso deve ser maniqueistamente tratada.
A Campanha Reaja continua confrontando modelos de Estado que não realiza a liberdade, a igualdade, nem a fraternidade para todos.Também está confrontando as alternativas dos brancos ricos cristãos da nova esquerda que também não realizou o socialismo humanitário.Precisamos compreender que tivemos que superar o ideário monarquista que não realizou a igualdade material que nos livraria do jugo histórico de uma saga escravocrata. Mas é bem verdade que os senhores do café e do leite eram republicanos e não gostavam de pretos.
A Campanha Reaja sobrevive no limbo dos modelos de Estado e regimes de governo que não realiza a igualdade entre pessoas. A Campanha Reaja continua a expor os pretos contra mundos que se disputam e querem negros como troféus!
A Campanha não era para perdurar. Não era para continuar existindo para alguns republicanos e muito menos para alguns monarquistas da atualidade.
Viva o Reaja Viva!
Tenho pensado em porque o 13 de maio ainda é amplamente comemorado em todo o país. Agora, por ocasião do aniversário da Campanha Reaja, farei um breve comentário de um assunto que merece ser tematizado. Vlamyra Albuquerque aborda isso em seu livro, “O Jogo da Dissimulação”.
O 13 de maio, tendo sido fruto de uma pressão de republicanos e uma sobrevida para os monarquistas, seria lembrado como a glória histórica dos dois sistemas. Não era uma festa para negros comemorarem, porque a comemoração é uma auto-afirmação de seu mundo e isto, os monarquistas pouco compreendiam e os republicanos, bulhufas. Não era para existir Congadas, Bembé do Mercado e nem Reisados.
A república queria mesmo era ungir um mundo de iguais sem rostos da Republica que anunciava uma agenda emancipatória. No final do império existia uma Guarda Negra, formada por escravos libertos que entendia a importância de um terceiro reinado para a monarquia.Silva jardim, um famoso republicano que fora duramente combatido publicamente por dezenas de membros da Guarda Negra. Um prenúncio de uma republica eurocêntrica que tinha medo dos pretos que gostava da princesa e que tinha desconfiança dos brancos ricos materialistas. Hoje sentimos as faltas históricas de uma decadente Monarquia e de uma República não realizada e que nem por isso deve ser maniqueistamente tratada.
A Campanha Reaja continua confrontando modelos de Estado que não realiza a liberdade, a igualdade, nem a fraternidade para todos.Também está confrontando as alternativas dos brancos ricos cristãos da nova esquerda que também não realizou o socialismo humanitário.Precisamos compreender que tivemos que superar o ideário monarquista que não realizou a igualdade material que nos livraria do jugo histórico de uma saga escravocrata. Mas é bem verdade que os senhores do café e do leite eram republicanos e não gostavam de pretos.
A Campanha Reaja sobrevive no limbo dos modelos de Estado e regimes de governo que não realiza a igualdade entre pessoas. A Campanha Reaja continua a expor os pretos contra mundos que se disputam e querem negros como troféus!
A Campanha não era para perdurar. Não era para continuar existindo para alguns republicanos e muito menos para alguns monarquistas da atualidade.
Viva o Reaja Viva!
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