sábado, 29 de agosto de 2009

Professora ganha prêmio por incentivar alunos a gostar de MPB

Depois de ouvir de alunos na faixa etária entre 5 e 6 anos que as músicas preferidas eram hits como Rala a tcheca no chão, Desce com a mão no tabaco e Cadê os cachaceiros, a professora Adriana Rodrigues dos Santos, da Creche Municipal Vovô Zezinho, resolveu Entrar em ação. Mergulhou de cabeça na MPB e estudou uma forma de fazer com que os alunos passassem a ter com as canções do gênero a mesma intimidade que tinham com o pagode e o arrocha. Além de a iniciativa ter rendido resultados no aprendizado, garantiu a ela um lugar entre os dez melhores trabalhos do país voltados para educação infantil no Prêmio Professores do Brasil.

O resultado foi divulgado, segunda-feira(17), no Diário Oficial da União, e a premiação ocorre nos dias 2 e 3 de dezembro, no Ministério da Educação (MEC). 'Percebi que os alunos tinham um vocabulário inadequado para a idade e decidi usar a linguagem musical para transformar esta realidade', contou a professora, que inscreveu o projeto Vamos Aprender com a MPB?. Assim como qualquer disciplina convencional, a música passou a ser trabalhada religiosamente em sala de aula e a iniciativa foi bem recebida pelos alunos.

Diariamente, os pequenos entoam empolgados um repertório que inclui nomes como Vinicius de Moraes, Guilherme Arantes e Marisa Monte. Maicon Ferreira Nogueira, 6 anos, diz que sua música preferida é A casa, de Vinicius de Moraes, e tem orgulho em contar que já viu o monumento em homenagem ao Poetinha, em Itapuã. 'É uma música que fala sobre a casa da gente', diz, referindo- se à letra, que fala de uma casa que não tinha nada.

Já a pequena Nairane dos Santos, 6 anos, não esconde Que a predileta mesmo é Lenda da sereia, interpretada pela cantora Marisa Monte. 'É uma música que traz alegria, a gente canta mexendo com os braços', diz. Na verdade, mais do que cantar as letras, eles fazem questão de acompanhar com coreografias.

Ao levar a música para sala de aula, a professora buscou despertar nas crianças o interesse pela leitura e pela escrita, além de ampliar o vocabulário da garotada. E hoje, comemora ganhos expressivos.

'É muito gratificante perceber que, antes do projeto, 11 dos 18 alunos sequer diferenciavam letras de desenhos. Hoje, a situação é outra', comemora a professora, que fez questão de compartilhar a alegria pelo prêmio com os alunos. A boa notícia chegou anteontem, enquanto participava de uma reunião para discutir a festa de encerramento do ano letivo. O resultado só veio confirmar uma crença que ela já tinha: é possível, sim, fazer educação de qualidade na escola pública.

'Trabalho há 13 anos com educação, sendo que, dez deles foram dedicados à rede privada. Encarei o ingresso na rede pública como um grande desafio e hoje sei que é possível realizar um bom trabalho', avalia Adriana, que trocou a sala de aula de um colégio tradicional como o Marista por uma escola voltada para uma comunidade humilde do bairro de Arenoso.

POR QUE MÚSICA? A professora Conta que escolheu a música por considerá-la um importante meio de estimular a criatividade, além de possibilitar correlações entre a criatividade e a criação de formas de pensar ou entender o mundo. 'A música representa não só uma ferramenta de entretenimento, mas também, auxilia no aprendizado da fala, do ouvir e também na coordenação motora', explica.

Extrapolando as fronteiras Da sala de aula, através do projeto, Os alunos tiveram a oportunidade de conhecer a Praia de Itapuã, tão cantada nas músicas de Vinicius de Moraes, e a Casa da Música, no mesmo bairro, além de assistir a uma apresentação da Orquestra Sinfônica da Bahia e de participar de uma oficina de música.

A diretora da Creche Vovô Zezinho atribui o prêmio ao trabalho de parceria que é desenvolvido na instituição. 'Quem faz a escola pública somos nós e, aqui, o compromisso de cada um é em fazer o melhor que pode', defende a diretora. Este é o segundo prêmio nacional que a escola recebe. Já em âmbito local, ela acumula outras cinco premiações. Mas, se depender da equipe, virão outros.

(Reportagem publicada na edição de 19/11/2008 do CORREIO)


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