quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Opinião: Estrutura atual do ensino fundamental traz transtorno para famílias

Defasagem na idade torna aprendizado possível, mas difícil.
Mudança para 9 anos vai adequar aluno à série que estuda.

Uma das mudanças que ocorrerá com a implantação do ensino fundamental de nove anos é a adequação da idade do aluno à série que estuda.

Hoje, tem funcionado da seguinte maneira: uma criança para frequentar uma determinada série, deve completar a idade correspondente a ela no ano em que vai cursá-la, que pode ser de primeiro de janeiro a 31 de dezembro. Com essa possibilidade, pode-se encontrar na mesma classe estudantes com quase um ano de diferença.


Essa forma de proceder trouxe transtornos para muitas famílias. Com a idéia de adiantar um ano a vida escolar do filho, mas não sendo obrigados a isso, muitos pais optaram por matricular seus pequenos que fazem aniversário no segundo semestre (às vezes mais para o final) na série correspondente à idade a ser completada. Os alunos acompanhavam a escola, mas à custa de muito esforço -provavelmente por lhe serem exigidas coisas além de suas possibilidades maturacionais.


Quando falamos de desenvolvimento infantil, a diferença de meses conta muito. Basta observarmos um bebê ao nascer e compararmos passados quatro meses. Muita coisa terá mudado. Na fase escolar, também observamos isso se considerarmos, por exemplo, uma criança que aniversaria em fevereiro e outra que completa a mesma idade em outubro.

Sabemos que aprender vai além de recursos intelectuais. Envolve aspectos sociais, biológicos, emocionais e ambientais. No início da escolarização, é mais importante a maturidade física e psíquica do que ser muito inteligente.


Quando há uma defasagem na idade escolar, o aprendizado se torna algo possível, mas muito difícil. Há o risco de que os alunos comecem a acreditar que não conseguem mesmo aprender direito, que não são capazes. Na verdade, são apenas muito novinhos para o que estão fazendo. As primeiras séries até conseguem levar com a ajuda dos pais. Mais lá para a frente, a possibilidade de ficarem retidos numa série é maior. As coisas vão ficando piores.

Um exemplo
Esse é um problema que uma leitora da semana passada trouxe: seu filho, que fará seis anos em agosto de 2010, ainda pode ir para o primeiro ano do fundamental. Porém, não sabe como está seu emocional para isso.

Sua preocupação é bem pertinente, pois, ao matriculá-lo com 5 anos no primeiro ano, ele fará a antiga primeira série com seis, e assim por diante. Não tem porque apressá-lo. Mas fazê-lo refazer o último ano do infantil também não tem sentido.
Esse é um período de transição e eles não são fáceis, acabam por nos colocar em situações complicadas. Vale lembrar que as decisões não são para sempre e que cada criança é uma.


A boa notícia é que, passada a fase de transição (após 2010), as crianças para se matricularem no primeiro ano do ensino fundamental deverão ter seis anos completos ou a completar no início do ano letivo. As coisas ainda estão se definindo, mas no geral as escolas aceitarão as matrículas para o ingresso no ensino fundamental das crianças que completarem seis anos até 30 de junho.


Com isso, muitas crianças que se adiantariam vão se sentir mais adequadas com o que estão aprendendo. E os pais não precisam se preocupar delas estarem perdendo um ano. Pelo contrário, um ano bem vivido tem mais valor do que viver muitos às pressas.

(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)

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